Reciclando tristeza

Eu poderia escrever agora o quanto estou triste. Sim, meu caso de amor, ao que tudo indica, chegou ao final. 

Mas, como pra mim nada tem um final realmente, então elimino 10% da minha tristeza.

Sabe, às vezes me pergunto se o que sinto é tão verdadeiro quanto eu escrevo. E, às vezes, chego à conclusão de que talvez você não tenha me conquistado, de fato... de que talvez você não tenha feito nada pra isso. Eu é que construí meu castelo muito perto do mar. Com minhas palavras apaixonadas e de tanto eu te dizer o quanto você era especial pra mim, acabei convencendo mais a mim mesmo do que a você de que eu estava realmente sentindo o que eu dizia sentir. Por assumir parte dessa culpa, elimino mais 10% da minha tristeza.

Eu estava muito triste até poucos minutos atrás. Mas eu seria idiota se não tivesse aprendido nada com meu relacionamento anterior. E com ele eu aprendi que tudo passa. Do maior amor, até as piores dores. Minha tristeza começa a se dissipar em 50%.

De vez em quando, eu sinto raiva. Raiva porque não deu certo. Então me prometo evitar pensar nisso. Não consigo, e sinto mais raiva. E choro. Então lembro que, da mesma forma que eu consegui me levantar uma vez, posso conseguir outra. Amores vêm e vão. 

Lembro que chorei por meses quando perdi um amor de verdade. Quase que sem parar. 

Agora estou calmo, sereno. Não choro mais. E estou só no primeiro dia. Fico feliz por perceber que evoluí.

Elimino outros 10% da minha tristeza.

Sabe... A maior parte da minha tristeza se deve a um pensamento que tenho: o de estar sozinho mesmo tendo amigos que mais parecem escudeiros à minha volta. 

Eu sei que eles me farão rir. Tentarão me consolar, mas peço que não o façam. O mais precioso dos aprendizados vem do sofrimento de amor. E, se eu não aprender nada com o sofrimento que me é proporcionado, tudo aquilo que chorei não terá valido a pena. Quero reciclar cada lágrima. 

Me conforta saber que não errei. Que não deixei de falar nada, de fazer nada, de sentir nada... Tudo o que fiz foi fazer o que eu queria que fizessem comigo. E isso não é um erro. Pois você me fez acreditar que éramos iguais. Talvez até sejamos. 

E talvez você pense que eu esteja magoado com você. Mas não... A situação é que me irrita. 

Mas existe algo em mim que você não demonstrou semelhança. Pois eu nunca volto atrás. E é por isso mesmo que nunca entro em algo sem pensar bastante. Pois, quando se volta atrás em alguma palavra dita, o resto do mundo se desconserta.

Deixo nessas linhas finais 20% da minha tristeza da qual não pretendo me desfazer, pois ela não me deixará esquecer o que eu devo fazer daqui pra frente.

Rilton Viana